Ativista da ONG Avaaz.org protesta fantasiado de árvore no Bella Center, sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
"A gente precisa sair desta zona de conforto em que todo mundo está acomodado, esperando o mundo acabar em barranco. Temos que tomar as coisas para nós, porque somos nós que vamos fazer as coisas diferentes".
O Brasil encabeça a lista de um ranking de combate à mudança climática publicado nesta segunda-feira por uma organização não-governamental europeia.
Pela primeira vez desde que o indicador começou a ser medido pela ONG Germanwatch e a rede Climate Action Network (CAN), um país emergente ocupou a liderança no ranking, passando para trás países desenvolvidos como a Suécia, a Alemanha e a Noruega.
Para ONG, esforços são insuficientes
para evitar aquecimento de 2º C
O Brasil obteve uma nota 68, o que o coloca no grupo dos países cujo desempenho nesse sentido é considerado “bom”.
No mesmo grupo ficaram a Suécia (67.4), Grã-Bretanha e Alemanha (65.3), França (63.5), Índia (63.1), Noruega (61.8) e México (61.2).
“É muito bom que países emergentes estejam ganhando posições neste ranknig”, avaliou o diretor europeu da rede CAN, Matthias Duwe.
“Estão mandando um sinal claro, durante as negociações de Copenhague, de que estão comprometidos em combater a mudança climática. Gostaria apenas que outros países europeus estivessem demonstrando o mesmo compromisso para com as mudanças positivas.”
As organizações elogiaram a melhora do marco legal de proteção ao clima no Brasil. Mas adotaram uma postura cautelosa em relação à desaceleração do ritmo de desmatamentos no país, que reduziu as emissões de carbono do país.
“Ainda não está claro se isto é resultado de uma menor demanda por óleo de palma e soja na atual crise econômica.”
Esforço insuficiente
O quinto índice de desempenho da mudança climática (CCPI, na sigla em inglês) avaliou as medidas que estão sendo tomadas em 57 países e as comparou:
Como a ONG considera que “nenhum país está se esforçando o suficiente para prevenir uma perigosa mudança climática” – ou seja, ninguém está cumprindo o critério número dois –, nenhum desempenho foi considerado “muito bom”, o que deixou vazias as três primeiras posições do ranking.
O indicador é divulgado no mesmo dia em que as negociações sobre o clima na capital dinamarquesa esbarram em um impasse, com os países emergentes acusando os desenvolvidos de promover um acordo sem força para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa, que causam o aquecimento global.
No rascunho de acordo apresentado na sexta-feira, as metas de cortes na emissão de carbono variam de 25% a 45% até 2020.
Para os divulgadores do CCPI, as metas apresentadas pelos países ricos são “insuficientes”.
No fim da lista, entre os países com desempenho “muito ruim”, ficaram o Canadá (40.7) e a Arábia Saudita (28.7).
A ONG ressaltou que, apesar de estar entre os dez maiores emissores mundiais de CO2, até agora o Canadá não anunciou nenhuma política significativa em relação ao tema.
Já a Arábia Saudita, o maior produtor mundial de petróleo, é considerada uma espécie de “inimiga” dos ambientalistas por questionar a origem e a importância do fenômeno de aquecimento global.
Na mesma categoria, e a apenas oito do fim do ranking, ficaram os Estados Unidos (46.3).
“Há uma série de propostas de políticas climáticas tramitando no Congresso americano no momento, mas nenhuma ainda aprovada”, disse o diretor de políticas da Germanwatch, Christoph Bals.
“Uma lei que realmente reduza as emissões, assim como uma posição forte em Copenhague, melhoraria sua posição no ranking.”
Por Richard Cowan e Anna Ringstrom
COPENHAGUE (Reuters) - Enquanto negociadores de mais de 190 países discutem detalhes de um novo tratado climático, celebridades do cenário político norte-americano roubaram a cena com seus apelos por ação.
O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, o ex-vice-presidente Al Gore e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, atraíram uma multidão de jornalistas enquanto, do lado de dentro do centro de convenções Bella Center, funcionários da ONU alertavam que um acordo continua distante.
Jornalistas tiveram de disputar ingressos para os discursos de Gore e Schwarzenegger.
Em um evento paralelo, o governador de São Paulo, José Serra, se reuniu com Schwarzenegger em Copenhague, e voltou a convidá-lo a visitar o Brasil.
No encontro Serra destacou o fato de a Califórnia contar com 34 milhões de habitantes e 25 milhões de carros sem flexibilidade para usar álcool, gasolina ou diesel.
"Temos pesquisas de etanol envolvendo empresas de São Paulo e da Califórnia, inclusive no sentido de extrair diesel e querosene do etanol. Há um promissor mercado para o etanol brasileiro ali", disse Serra.
Bloomberg e Schwarzenegger alertaram que, com ou sem acordo, Estados e municípios levarão adiante seus próprios programas de redução de emissões de gases-estufa.
Leia mais
Por Michael Szabo e Richard Cowan
COPENHAGUE (Reuters) - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e a anfitriã Dinamarca pediram nesta terça-feira aos países participantes de uma conferência climática que façam concessões de modo a permitir a aprovação de um novo tratado contra o aquecimento global.
Os ministros tentam resolver o impasse nas negociações climáticas em Copenhague, três dias antes da reunião de chefes de Estado e governo para selar o novo acordo.
"A esta hora estamos nos equilibrando entre o sucesso e o fracasso", disse Connie Hedergaard, que preside em nome da Dinamarca a conferência de duas semanas, na abertura da fase de negociações envolvendo os primeiros escalões nacionais.
"O sucesso está ao nosso alcance. Mas... também devo alertá-los: podemos fracassar".
Os organizadores do evento disseram que os ministros de Meio Ambiente vão trabalhar noite adentro na terça-feira para tentar superar divergências e para que a maior parte do trabalho esteja concluída antes da participação oficial dos 115 governantes, na quinta-feira.
"Três anos de esforço se resumem a três dias de ações", disse Ban. "Não vamos fraquejar na reta final. Ninguém vai conseguir tudo o que deseja nesta negociação".
Após uma suspensão de várias horas na véspera por causa de um protesto de países africanos, as negociações voltaram a parar na terça-feira devido a disputas sobre as reduções que os países ricos devem fazer nas suas emissões de gases-estufa, e sobre a meta de longo prazo para o controle das temperaturas globais, de modo a evitar os piores efeitos da mudança climática - o que inclui inundações, secas, ondas de calor e elevação do nível dos mares.
Esboços de textos datados de terça-feira mostravam que os negociadores tinham retirado os números relativos às metas globais de longo prazo e dos cortes de emissões dos países ricos até 2020 do texto original. Os números poderão ser reinseridos se for alcançado um acordo.
Grandes empresas dos EUA como Duke Energy, Microsoft e Dow Chemical defenderam uma forte redução nas emissões norte-americanas, o que estimularia a busca por uma economia mais verde.
"Ainda há muito a fazer, as partes estão bastante distanciadas em um bom número de questões", disse Todd Stern, representante especial dos EUA para questões climáticas, acrescentando que não prevê nenhuma mudança nas metas de emissões dos EUA durante as negociações.
48 HORAS
A sessão de terça-feira deve ir noite adentro.
"Não é o papel dos líderes negociar o texto", disse o representante brasileiro, Sérgio Serra, enfatizando que a maior parte do trabalho deve estar pronta até quinta-feira.
As negociações de Copenhague, descritas por Ban como as mais complexas e ambiciosas já ocorridas na comunidade mundial, tropeçam na já antiga divergência entre países ricos e pobres sobre como enfrentar a mudança climática.
Um grupo de países identificados sob a sigla "Basic" (Brasil, África do Sul, Índia e China) está "coordenado suas posições quase de hora em hora", disse o ministro indiano do Meio Ambiente, Jairam Ramesh, reforçando o clima de divisão entre ricos e pobres.
A ministra sul-africana do Meio Ambiente, Buyelwa Sonjica, disse em nome do grupo que as promessas dos países ricos para o corte de emissões são "menos do que ambiciosas e inconsistentes com a ciência".
As negociações em Copenhague ainda não chegaram a um acordo sobre a criação de um fundo que ajude os países pobres a se adaptarem à mudança climática e a reduzirem suas emissões de gases-estufa.
Um jornal japonês disse na terça-feira que o Japão oferecerá 10 bilhões de dólares de ajuda ao longo de três anos, até 2012, e que isso incluirá medidas para proteger a biodiversidade nos países em desenvolvimento.
A maioria dos países desenvolvidos é a favor de um financiamento climático provisório de cerca de 30 bilhões de dólares entre 2010-2012 para ajudar os países mais pobres, muitos dos quais afirmam que esse valor é insuficiente.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse em Paris que espera do seu colega norte-americano, Barack Obama, o apoio a um "rápido início" para a ajuda aos países em desenvolvimento. "O presidente Obama sempre fala das suas ligações com a África, é hora de demonstrá-las", disse.
(Com reportagem adicional de David Fogarty)
"Manifestantes do Climate no Borders em Copenhague"
As negociações estão avançando lentamente demais na conferência das Nações Unidas para o clima em Copenhague, disse nesta terça-feira o chefe da ONU para mudanças climáticas, Yvo de Boer.
"Atravessamos um momento muito distinto e importante. Vimos, na última semana, progresso em várias áreas, mas não o suficiente", disse ele.
"Existe ainda uma quantidade enorme de trabalho a ser feito se essa conferência for apresentar os resultados que as pessoas esperam."
Yvo de Boer reconheceu que "leva tempo" chegar a um acordo de 192 países incluindo ilhas do Pacífico "que podem desaparecer sob o nível do mar", produtores de petróleo "que temem por suas economias", nações ricas "que não querem perder empregos" e emergentes "que querem erradicar a pobreza".
Divergências
Na segunda-feira, as negociações foram temporariamente suspensas depois que representantes de países africanos se retiraram em protesto contra o que chamaram de "abandono das metas firmadas no acordo de Kyoto".
Esses países criticaram a organização da conferência por, supostamente, se concentrar apenas nas negociações para um novo acordo climático, em vez de trabalhar paralelamente em uma extensão do Protocolo de Kyoto.
Países emergentes insistem que países desenvolvidos que ratificaram o protocolo devem se comprometer com novos cortes de emissões dos gases que causam o efeito estufa.
Um grupo de nações, liderado por Alemanha e Indonésia, examina os possíveis cortes nas emissões por parte de países mais ricos.
Outro, liderado por Grã-Bretanha e Gana, estuda formas de financiamento de longo prazo para ajudar países mais pobres se desenvolverem de forma "verde" e se proteger dos impactos das mudanças climáticas.
A China, o maior poluidor do mundo em termos absolutos, acusa os países desenvolvidos de retroceder no que diz serem suas obrigações de combater o aquecimento global e afirmou que a reunião de Copenhague entrou em uma fase crítica.
Líderes
Nesta terça-feira, organizações não-governamentais reclamaram que muitos ativistas estão sendo afastados do local da conferência.
Os organizadores dizem que um número muito maior de pessoas requisitou o credenciamento para o evento do que as instalações poderiam acomodar.
As vagas destinadas a ONGs estariam sendo progressivamente diminuídas por razões de segurança, dada a chegada de chefes de Estado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou para Copenhague nesta terça-feira.
Calcula-se que a sessão final da conferência, na sexta-feira, tenha a presença de cerca de 130 líderes, inclusive o presidente Lula.
BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.