Por Jeff Coelho e David Fogarty
LONDRES/CINGAPURA, 6 Jun
(Reuters) - O crescimento populacional, a urbanização e o consumo vão
causar danos irreversíveis ao planeta, disse nesta quarta-feira a ONU,
que também fez um apelo por um acordo urgente sobre novas metas verdes
para salvar o meio ambiente.
O Programa Ambiental da ONU disparou o
alarme no seu Panorama Ambiental Global 5 (GEO-5), publicado duas
semanas antes da cúpula Rio+20, uma das maiores reuniões globais de meio
ambiente dos últimos anos.
O encontro de 20 a 22 junho deverá
atrair mais de 50.000 participantes de governos, empresas e grupos
ambientalistas e de lobby para tentar definir novas metas em sete temas
principais, incluindo água, alimentos, segurança e energia.
O
GEO-5, que levou três anos para ficar pronto e é descrito pela
Organização das Nações Unidas como seu principal exame da saúde do
planeta, exorta os governos a criarem metas mais ambiciosas ou endurecer
as já existentes que, em sua maioria, não foram cumpridas.
O
tempo é curto, disse o subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do
Pnuma, Achim Steiner, enquanto o planeta caminha para os 9 bilhões de
pessoas até 2050 e a economia global consome quantidades cada vez
maiores de recursos naturais.
"Se as tendências atuais
continuarem, se os padrões atuais de produção e consumo dos recursos
naturais prevalecerem e não puderem ser revertidos e 'dissociados',
então os governos vão presidir com níveis sem precedentes de danos e
degradação", disse Steiner em um comunicado.
Das 90 metas ambientais existentes mais importantes, apenas quatro estão fazendo progressos significativos, segundo o relatório.
Algumas
das metas de sucesso incluem aquelas para evitar a destruição do ozônio
e proporcionar o acesso a abastecimento de água limpa. Mas o documento
detectou pouco ou nenhum progresso em 24 metas, como aquelas com o
objetivo de abordar a mudança climática, o esgotamento dos recursos
pesqueiros e a expansão da desertificação.
O Pnuma exortou os
governos a concentrarem suas políticas sobre os principais fatores
causadores de mudanças climáticas, destacando o crescimento populacional
e urbanização, o consumo de energia baseada nos combustíveis fósseis e
da globalização.
Os cientistas relacionaram a queima de
combustíveis fósseis --carvão, petróleo e gás natural-- a uma aceleração
das mudanças climáticas, como secas severas e inundações. Existem
também custos econômicos.
O prejuízo econômico anual da mudança
climática é estimado em 1 a 2 por cento do PIB mundial até 2100, se as
temperaturas aumentarem em 2,5 graus Celsius, afirmou o Pnuma.
Os
modelos atuais sugerem que as emissões de gases causadores de efeito
estufa podem dobrar nos próximos 50 anos, levando ao aumento da
temperatura global em 3 graus Celsius ou mais até o final do século.
A
maioria dos impactos da mudança climática será sentida em muitos países
em desenvolvimento, particularmente na África e na Ásia, onde o
crescimento populacional e o aumento do consumo estão colocando mais
ênfase na diminuição dos recursos naturais, segundo o relatório GEO-5.
DE VOLTA AO RIO
A
cúpula Rio+20 não vai buscar o mesmo resultado da Cúpula da Terra do
Rio há 20 anos, que levou ao Protocolo de Kyoto sobre limitação das
emissões de gases de efeito estufa e a um tratado sobre a
biodiversidade.
A reunião deste mês acontece sob o cenário de uma
economia global em crise e diante de preocupações profundas sobre o
futuro financeiro da Europa. Os objetivos desta vez no Rio são
aspirações, não obrigações, mas as negociações sobre um esboço do texto
final têm sido carregadas. Cerca de um quinto do texto já foi acordado
antes da reunião, disse a ONU na segunda-feira.
Mesmo metas obrigatórias tiveram pouco ou nenhum progresso desde 1992.
As
emissões globais de dióxido de carbono aumentaram quase 40 por cento
entre 1992 e 2010, lideradas principalmente pelo rápido crescimento nas
grandes nações em desenvolvimento como Brasil, China e Índia, mostraram
os dados do Pnuma.
A biodiversidade também está em declínio, principalmente nos trópicos, com uma queda de 30 por cento desde 1992.
No
mês passado, o grupo ambientalista WWF disse que o mundo teria de ser
50 por cento maior para ter terra e florestas suficientes para os níveis
atuais de consumo e emissões de carbono.
A região Ásia-Pacífico,
que abriga mais da metade da humanidade, é fundamental para criar um
futuro mais verde, disse o relatório GEO-5. A região é a fonte de
crescimento mais rápida das emissões de gases-estufa no mundo e também
está se urbanizando rapidamente.
As emissões relacionadas ao
transporte deverão aumentar em 57 por cento a nível mundial entre 2005 e
2030, com a China e a Índia responsáveis por mais da metade, segundo o
relatório.
A região também enfrenta crescente demanda por água
para a agricultura e a indústria, enquanto os níveis aquíferos estarem
caindo, de os rios estarem cada vez mais poluídos e dos represamentos
para irrigação e geração de energia.
O relatório GEO-5 disse que
as metas com objetivos específicos e mensuráveis tiveram mais sucesso,
como as proibições a substâncias que destroem o ozônio e o chumbo na
gasolina.
O relatório também diz que é crucial para os governos
colocarem um valor sobre os recursos naturais, tais como manguezais,
rios e florestas e incluir isso nas contas nacionais.
Steiner pediu uma ação dos países.
"Chegou
o momento de acabar com a paralisia da indecisão, reconhecer os fatos e
encarar a humanidade comum que une todos os povos."
(Reportagem de Jeff Coelho e David Fogarty)
Fonte: verde.br.msn
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