quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Doenças de países ricos podem sugar biotecnologia desenvolvida em países pobres

DEBORA MACKENZIE
DA NEW SCIENTIST

Um nova leva de empresas de biotecnologia em países em desenvolvimento surgiu para atender a uma necessidade mundial: drogas e vacinas acessíveis aos pobres. Há, porém, a ameaça de o mercado vir a forçá-las a produzir mais remédios para os ricos.

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Os pesquisadores Rahim Rezaie e Peter Singer, ambos da Universidade de Toronto, no Canadá, estudaram 78 pequenas e inovadoras companhias de biotecnologia da Índia, China, Brasil e África do Sul. Todas possuem 69 drogas e vacinas disponíveis no mercado, e há outras 54 na fila, para tratar problemas locais como a tuberculose e as doenças tropicais.

Divulgação

Bacilo de Koch, que causa a tuberculose

Bacilo de Koch, que causa a tuberculose

Estas enfermidades têm sido negligenciadas pelas fabricantes farmacêuticas da Europa e da América do Norte porque a maioria dos doentes não pode pagar o tratamento, o que torna os remédios economicamente não tão atraentes.

Drogas e vacinas são caras para serem testadas e levadas para o mercado, e as pequenas indústrias estão formando parcerias com as grandes para viabilizar o processo. Como resultado, os dois pesquisadores alertam, elas podem mudar a produção para produtos que combatam doenças de países ricos.

Rezaie cita uma empresa da Índia que trabalha com uma dinamarquesa no tratamento de diabetes e outra da China que é parceira de norte-americanas na pesquisa de doenças relacionadas à inflamação intestinal. As duas doenças são típicas do Ocidente.

SAÚDE E BEM-ESTAR

A fabricante Shantha Biotechnics, da cidade de Hyderabad, na Índia, por sua vez, tornou a vacina de hepatite B possível para milhões de indianos ao usar bactérias equipadas com genes virais na produção da droga, reduzindo significativamente o seu custo. No ano passado, contudo, a companhia foi adquirida pela Sanofi-Aventis, com base em Paris, na França, e há o receio de que o foco de ação possa ser alterado.

"Estas companhias não precisam escolher entre a saúde mundial ou o bem-estar mundial", diz Singer. "Há coisas que podem ser feitas agora para tornar mais fácil o lucro e também atender as necessidades locais."

Para ele, isso inclui a disponibilidade de dinheiro pelo governo ou por entidades filantrópicas --para seduzir os países ricos a focar em doenças de regiões pobres -- e permissão das farmacêuticas para que pesquisadores independentes utilizem patentes no desenvolvimento de drogas que combatam doenças negligenciadas, em troca do pagamento em royalties.

"Essas companhias [pequenas da biotecnologia] são como um veio de ouro que poderia ser aproveitado em favor da saúde mundial", diz Singer.

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