quarta-feira, 23 de março de 2011

Radiação excessiva é encontrada na água de Tóquio

Radiação excessiva é encontrada na água de Tóquio

BBC Brasil

"Imagem do reator 4 da usina de Fukushima, em foto divulgado pela operadora Tepco"

Segundo a ONU, ainda há vazamento de radiação em Fukushima

Autoridades em Tóquio afirmaram nesta quarta-feira que os níveis de radiação da água das torneiras da cidade a deixam imprópria para o consumo por bebês.

O nível de iodo radioativo em algumas áreas é de mais do que o dobro do nível considerado seguro.

O governo japonês impôs novas restrições ao consumo de alimentos de áreas afetadas pelos vazamentos da usina nuclear de Fukushima.

Os Estados Unidos também anunciaram restrições à importação de certos alimentos japoneses.

Os níveis de iodo-131 radioativo em algumas áreas de Tóquio é de 210 becquerels (unidade de medida de radiação) por litro. O nível considerado seguro para o consumo por bebês é de 100 becquerels por litro.

As autoridades advertiram a população a não dar água da torneira para crianças, mas não houve uma advertência imediata em relação ao consumo por adultos.

O Japão luta para conter o vazamento de radiação nos reatores da usina de Fukushima, atingida pelo terremoto e pelo tsunami do dia 11 de março.

Mortos e danos

O governo japonês confirmou nesta quarta-feira 9.079 mortes em consequência do tremor e do tsunami. Outras 12.645 pessoas ainda estão desaparecidas.

O custo dos danos provocados pelo desastre foram estimados entre 16 trilhões e 25 trilhões de ienes (entre R$ 328 bilhões e R$ 513 bilhões).

O primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, ordenou aos governadores das províncias de Fukushima e da vizinha Ibaraki que interrompessem os carregamentos de vários produtos agrícolas para exportação.

A lista inclui verduras, brócoli, salsinha e leite não-pasteurizado, após testes terem indicado níveis de radiação maiores do que o normal.

O chefe de Gabinete do governo japonês, Yukio Edano, afirmou em uma entrevista coletiva que os importadores de alimentos japoneses devem adotar uma 'atitude lógica'.

Os fabricantes e comerciantes de alimentos e peixes japoneses expressam uma crescente preocupação sobre os efeitos que a crise poderá ter sobre suas fontes de renda.

Vazamento

Funcionários do reator 2 da usina de Fukushima interromperam novamente os trabalhos de resfriamento nesta quarta-feira, após uma elevação nos níveis de radiação.

A agência de energia atômica da ONU afirmou que ainda há radiação vazando da usina.

A empresa operadora da usina Fukushima Daiichi, a Tepco (Tokyo Eletric Power), afirmou que a restauração da energia elétrica em todos os reatores poderá ainda levar semanas ou até meses.

Na terça-feira, um alto funcionário da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), James Lyons, disse que não poderia confirmar se os reatores danificados estavam 'intactos' ou se racharam e estariam vazando radiação.

'Continuamos a ver radiação saindo do local e a questão é saber de onde exatamente ela está vindo', afirmou Lyons.

O governo japonês retirou dezenas de milhares de pessoas em um raio de 20 quilômetros da usina e disse aos moradores a até 30 quilômetros de distância para permanecerem dentro de casa. Os Estados Unidos recomendaram uma zona de exclusão num raio de 80 quilômetros para seus cidadãos.

O vice-presidente da Tepco, Norio Tsuzumi, visitou os centros de desabrigados para se reunir com as famílias obrigadas a deixar suas casas.

Curvando-se bastante, num sinal de respeito segundo a cultura japonesa, ele disse: 'Como tentei administrar este problema diretamente com o governo, minha visita para encontrar vocês diretamente foi adiada. Por isso, eu também peço desculpas do fundo do meu coração'.

Enquanto isso, tremores secundários continuam a assustar a população do nordeste do Japão, aumentando ainda mais os problemas das mais de 300 mil pessoas ainda alojadas em centros de desabrigados em 16 províncias japonesas.

Dezenas de milhares de casas ainda estão sem energia e mais de 2 milhões de pessoas estão sem água, segundo as autoridades japonesas.

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domingo, 20 de março de 2011

O apogeu da cana no Sudeste do Brasil

Crédito: Mario Osava/IPS

Crédito: Mario Osava/IPS

Ribeirão Preto, Brasil, 18/3/2011 – As estradas são excepcionalmente boas e numerosas, em contraste com outras partes do Brasil, mas a monotonia da paisagem não convida ao turismo. Os canaviais dominam o horizonte, as cores e os odores, em um longo eixo de 400 quilômetros para o Norte de São Paulo. No centro dessa área com singular desenvolvimento econômico e social, como maior produtora de açúcar e etanol do país, está Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do Brasil, com 605 mil habitantes e renda por pessoa que é o dobro da média nacional.

A cana promove o progresso local porque seu cultivo leva à industrialização. Começa a perder potencial produtivo 48 horas após ser colhida e isso obriga que seu processamento seja local e impede sua exportação para ser transformada longe. Ao contrário de outros grandes cultivos, como café e soja, sua curta cadeia produtiva mantém seu processamento no mesmo lugar, sem intermediações, e isso permite baixos preços, para beneficio do consumidor, disse o engenheiro Cícero Junqueira Franco, um dos líderes históricos do setor que, aos 79 anos, ainda é um influente sócio de várias empresas.

Contudo, foi o Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), criado em 1975 para substituir parcialmente o consumo de gasolina e reduzir a importação de petróleo, que incentivou a prosperidade atual da região de Ribeirão Preto, convertida em um imenso canavial. Trata-se do etanol, mais conhecido como álcool. Sua produção em grande escala “mudou a estrutura do setor e mudou o Brasil”, disse à IPS Cícero, um dos “pais” do Pró-Álcool, que com outros empresários propôs ao governo criar essa política em 1974, quando o petróleo quadruplicou seu valor por causa da primeira grande crise de preços no setor.

Na época, o Brasil importava 85% do petróleo que consumia e sua repentina alta freou o crescimento econômico do país. O etanol surgiu para superar a crise, em uma conjuntura que coincidiu com um excesso de cana no mercado nacional, devido a estímulos governamentais para a produção. Assim, o Pró-Álcool nasceu para solucionar dois problemas, disse Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) e agora professor universitário e presidente do Conselho de Agronegócios da Federação das Indústrias de São Paulo.

Nos 35 anos do programa, a produção brasileira de etanol saltou de 611 milhões de litros para 27,7 bilhões em 2010, enquanto a de açúcar mais do que quintuplicou, ao atingir 38,7 milhões de toneladas. Para atender essas duas demandas, a área cultivada aumentou quatro vezes, o que permitiu multiplicar por sete a cana colhida. Em 2010, a extensão cultivada foi de 8,1 milhões de hectares e a produção de 625 milhões de toneladas.

Isso só foi possível porque a produtividade aumentou cerca de 3% ao ano, um crescimento “brutal” em termos agronômicos, explicou Cícero em sua residência rural, um oásis com árvores e água de um riacho, perto de canaviais por todos os lados, no município de Orlândia, 55 quilômetros ao norte de Ribeirão Preto. Essa acelerada expansão rompeu o controle que o governo exercia sobre o setor da cana, mediante cotas de produção e o monopólio das exportações, e transformou o interior do Estado de São Paulo, especialmente o Nordeste, onde se concentrou o cultivo.

Antes, poucas instalações processadoras contavam com um engenheiro e hoje em dia “dificilmente têm menos do que três”, disse Cícero. Se for somada a produção de açúcar e álcool, nos engenhos trabalham 31 diferentes profissionais universitários, acrescentou. O Pró-Álcool “oxigenou um sistema esclerosado”, o modernizou e atraiu novos empresários, “abrindo mentes”, disse Maurilio Biagi Filho, outro líder do setor, com experiência na indústria de equipamentos e bebidas. Também dirigiu várias unidades transformadoras, após viver sua infância em uma delas, fundada por seu pai.

Eletricidade, plásticos e outros produtos químicos, fertilizantes e enzimas entraram nos planos do setor açucareiro. As pesquisas científicas e tecnológicas ganharam um forte impulso na região, o que promoveu a instalação de universidades e centros criados pela própria indústria do açúcar e do álcool.

A expansão favoreceu o desenvolvimento de uma diversificada indústria de máquinas para cultivo da cana e sua transformação em açúcar, álcool e energia. Sertãozinho, a 20 quilômetros de Ribeirão Preto, concentra 550 empresas, que em sua maioria fornecem também equipamentos para outros setores, como petroleiro e hidrelétrico, dentro e fora do Brasil.

A colheita está 70% mecanizada e deverá chegar aos 100% em 2014, o que ampliou o mercado industrial, ao aumentar a demanda por colheitadeiras e veículos de coleta. A exigência é ambiental e busca eliminar incêndios produzidos para facilitar a colheita manual da cana. Os hotéis lotados em todas as cidades da região refletem esse dinamismo econômico impulsionado pela cadeia produtiva açucareira.

No entanto, falta uma “política mais clara”, disse Maurilio à IPS. O etanol segue o ciclo da cana. Sem colheita no primeiro trimestre e sem estoques reguladores, acumulados e controlados pelo governo para estabilizar o mercado, o etanol escasseia porque se destinou mais cultivo à produção de açúcar, por seus preços maiores desde 2010. Os veículos com motores flex são produzidos no Brasil desde 2003, o que permite abastecê-los com o combustível mais barato. Desta vez a demanda por etanol não caiu na proporção esperada.

O aparente progresso gerado pela economia da cana tem seus críticos. A mecanização começou no final dos anos 1980 para conter o movimento dos cortadores de cana em defesa de seus direitos, “não por razões ambientais”, disse à IPS Helio Neves, presidente da Federação dos Empregados Rurais do Estado de São Paulo. Além disso, deixará sem emprego milhares de trabalhadores e sua capacitação para novas ocupações é menor do que a demanda, acrescentou.

A cana é “uma planta maravilhosa”, mas sua monocultura concentra o poder nas empresas “em detrimento da democracia, impondo uma ditadura do econômico sobre o social”, lamentou Helio, respeitado sindicalista, protagonista da violenta greve de 1984 dos cortadores em Guariba, a 65 quilômetros de Ribeirão Preto.

Além disso, a prosperidade da cana é distribuída desigualmente. Ribeirão Preto, por concentrar os serviços melhor remunerados, e Sertãozinho são cidades privilegiadas. Entretanto, a pobreza relativa e a falta de emprego forçam milhares de mulheres de Guariba, Barrinha e outros municípios com muita cana, mas sem indústrias, a trabalharem como domésticas em Ribeirão Preto.

É o caso de Maria Alcântara Silva, de “mais de 30 anos”. Há seis percorre duas vezes ao dia os 35 quilômetros que separam sua cidade, Pradópolis, de Ribeirão Preto, onde a melhor remuneração compensa o gasto com ônibus. Pelo menos permite que mantenha o filho estudando química na universidade, afirmou. Em Guariba há 620 mulheres registradas como domésticas em Ribeirão Preto e a prefeitura lhes paga 40% do transporte, informou José Roberto de Abreu, secretário municipal do Emprego e das Relações do Trabalho. Envolverde/IPS

FOTOCrédito: Mario Osava /IPS

Legenda: A paisagem infinita de canaviais na região de Ribeirão Preto.

Sistemas de alerta afogados pelo tsunami

Imagem Ilustrativa

Imagem Ilustrativa

Nova York, Estados Unidos, 18/3/2011 – O avançadíssimo sistema de alerta de desastres do Japão evitou uma quantidade maior de mortes com o terremoto de nove graus na escala Richter na semana passada, mas não pôde com o tsunami, que afogou a capacidade de reação deste que é o terceiro país mais industrializado do mundo.

O terremoto deixou cem mortos. Mas a posterior onda de dez metros matou 3.200 pessoas em 12 municípios, embora outros dados menos conservadores falem que foi pelo menos o dobro. Estima-se que nos próximos dias a quantidade de mortes chegue a dez mil. Além disso, há mais de 15 mil desaparecidos nas áreas afetadas, informou a imprensa oficial.

Somente em Fukushima, é desconhecido o paradeiro de 1.200 pessoas, quantidade que seguramente aumentará nos próximos dias. Mais de dez mil ficaram perdidas em Iwate e outras mil em Miyagi e Fukushima. A localidade de Minami Sannriku, em Miyagi, e a de Otsuchi, em Iwate, são as mais afetadas com cerca de 20 mil pessoas, e cerca da metade não manteve contato com o exterior até o dia 15.

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação da Assistência Humanitária (Ocha) enviou a Tóquio, no dia 14, sua equipe de Coordenação e Avaliação de Desastres (Undac), a pedido do governo japonês, para coordenar o fluxo de assistência estrangeira. “A equipe colabora com a gestão de informação e as ofertas de ajuda”, disse à imprensa Martin Nesirky, porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que ontem “enviou uma missão de reconhecimento para Fukushima e Miyagi”.

A Undac desempenha um papel mais limitado porque as autoridades japonesas estão preparadas para dirigir o grosso da busca e dos resgates. Sua missão é oferecer alguns serviços específicos e deixar para o governo as grandes decisões. “A Undac oferece assessoria sobre serviços e produtos internacionais que chegam ao país para reduzir as contribuições não solicitadas”, disse à IPS Stephanie Bunker, porta-voz do Ocha em Nova York. “É um trabalho muito importante. As pessoas têm boas intenções, mas um excesso de assistência sem coordenação não é bom”, acrescentou.

A equipe de resposta a desastres é formada por sete pessoas, da França, Grã-Bretanha, Índia, República da Coreia, Suécia e também do Japão. Foi criado um Centro de Coordenação e Operações no local para distribuir informação à comunidade internacional nos próximos dias.

Cerca de 420 mil pessoas foram evacuadas das áreas atingidas pelo terremoto e pelo tsunami, das quais metade é de Miyagi e o restante de Fukushima, Iwate, Ibaraki, Tochibi e Aomori, segundo o Ocha. “Não temos estimativas sólidas do custo total que implica o desastre. É muito cedo para ter um número coerente”, disse Stephanie à IPS. Quase quatro mil construções no Nordeste de Tohuku foram totalmente destruídas e outras 55 mil ficaram muito danificadas pelo terremoto, o tsunami e os incêndios.

A Autoridade Nacional da Polícia Japonesa informou que a interrupção de estradas e pontes virtualmente paralisou grande parte do sistema de transporte. Quase 850 mil famílias clientes da Companhia de Energia Elétrica de Tóquio e de Tohuku carecem de água, gás e eletricidade. A falta de alimento e água piora a cada hora.

A Cruz Vermelha japonesa começou a oferecer assistência médica e psicológica a sobreviventes e evacuados. “Nunca vi algo tão terrível como isto”, disse Tadateru Konoé, presidente dessa organização, após visitar Iwate. Cerca de 430 mil evacuados moram em menos de 2.500 locais provisórios como escolas e outros prédios públicos, segundo a organização. “Chegam muitas pessoas aos hospitais com hipotermia e risco de pneumonia. Muitas pessoas sofrem as consequências de terem bebido água contaminada durante o tsunami”, diz o informe divulgado à imprensa.

O Japão aceita a ajuda especializada de algumas agências humanitárias, mas demonstra uma extraordinária resiliência e grande eficiência diante do desastre. Mais de cem mil soldados, 95 mil bombeiros e 920 unidades da polícia trabalham sem cessar retirando pessoas em perigo, localizando desaparecidos e distribuindo ajuda o mais rápido possível.

Exército e polícia resgataram mais de 2.200 pessoas e a guarda costeira e a Agência de Gestão de Desastres e Incêndios quase outras três mil, entre elas 970 que estavam em povoados isolados, informou o Ocha. Além disso, já foram reparadas 121 estradas e 28 pontes, o que facilita as operações de assistência e resgate. Envolverde/IPS

França acorda com desastre nuclear japonês

Crédito: Menekse Cam

Crédito: Menekse Cam

Paris, França, 18/3/2011 – A maioria dos franceses não se preocupava se os 58 reatores nucleares do país são seguros o bastante para continuar operando vários anos mais, até que o Japão começou a ter problemas nas centrais de Fukushima. A população ignorava as provas apresentadas por ativistas que, apesar da indiferença geral, continuaram remexendo nas incomensuráveis complexidades da burocracia francesa em matéria energética para encontrar a verdade sobre a precariedade das usinas nucleares.

Após a catástrofe nuclear japonesa, até o mais estoico dos franceses começou a refletir sobre a possibilidade de seu país estar à beira do desastre. Não foram feitas pesquisas de opinião representativas, mas uma quantidade substancial de pessoas ouvidas por alguns meios de comunicação disse estar a favor de uma política menos dependente da energia atômica. A imprensa conservadora, a favor das usinas, revelou ontem que no ano passado houve mil acidentes de diferentes intensidades nos complexos atômicos do país.

Os dados oficiais constam de um informe sobre segurança nas centrais da França que será apresentado ao parlamento em abril. O documento preparado pela Agência de Segurança Nuclear deveria ser confidencial, mas se tornou público com o desastre no Japão após o terremoto e o tsunami. A França é o país europeu com mais centrais nucleares em funcionamento e o que mais depende dessa fonte de energia no mundo. Os 58 reatores geram 80% da eletricidade consumida. A densidade de sua localização é tal que ninguém consegue estar a mais de 300 quilômetros de distância de um reator.

A grande quantidade de acidentes nas centrais atômicas não é novidade para os ativistas franceses. Metade delas tem mais de 25 anos, disse à IPS o presidente do Observatório de Energia Nuclear, Stéphane Lhomme. “Metade dos reatores está perto do final de sua vida útil e sofre os problemas da idade”, afirmou. Numerosos reatores também sofrem “defeitos de projeto”, que regularmente causam anomalias técnicas, disse Stéphane. “A França esteve várias vezes à beira de um desastre nuclear nos últimos dez anos”, assegurou.

Quando o Furacão Martin atingiu a parte sudoeste da costa atlântica da França, em dezembro de 1999, a usina de Blayais, perto da cidade de Bordeaux, foi inundada pela água do mar e teve de ficar fechada vários dias. “Estivemos perto de uma catástrofe”, recordou Stéphane. Uma rachadura no sistema de esfriamento da central de Civaux, em maio de 1998, causou um grande vazamento radioativo que por várias horas ficou fora de controle. A usina ficou fechada por dez meses. Várias centrais francesas estão localizadas em áreas de atividade sísmica, disse.

“O risco de um terremoto da intensidade do registrado no Japão é baixo na França, mas nossas usinas são mais frágeis do que as dos japoneses”, ressaltou Stéphane. A central mais antiga da França, em Fessenheim, perto da fronteira com a Alemanha e a Suíça, está em “uma área de muita atividade sísmica e perto de um rio”. Apresentou numerosos problemas técnicos, a maioria em seus sistemas de resfriamento, e teve de permanecer fechada quando 50 metros cúbicos de gás radioativo vazaram para a atmosfera, acrescentou.

Não parece que a França vá diminuir sua dependência da energia nuclear no futuro próximo, apesar da amplitude de provas sobre os defeitos técnicos. “Todos os partidos políticos defendem esta fonte de energia e estão ligados, de uma forma ou outra, ao complexo industrial. A França não tem alternativa”, explicou Stéphane.

Não surpreende que o governo francês tenha tentado minimizar a dimensão da crise japonesa. A explosão em Fukushima “não foi uma catástrofe”, disse inicialmente o ministro da Energia, Eric Besson, que depois se corrigiu e afirmou que “um pesadelo havia voltado”. Acrescentou que “é legitimo um debate sobre energia nuclear na França, mas não é indispensável. Continuo acreditando em seu uso com fins civis”.

A oposição pediu um referendo sobre uso da energia nuclear. Os dirigentes do Partido Verde sugeriram eliminá-la em 25 anos. O primeiro-ministro, François Fillon, considerou “absurda” a conclusão a que chegaram jornais e ambientalistas de que “após o acidente de Fukushima, a energia nuclear está completamente condenada”. O governo anunciou que controlaria a segurança de todas as usinas em operação.

A primeira medida que a França pode tomar para reduzir sua dependência nuclear é diminuir o “descuidado consumo elétrico”, disse Stéphane. “Economizaríamos uma grande quantidade se isolássemos melhor as casas e os prédios e deixássemos de nos aquecer com eletricidade”, acrescentou. Dos lares franceses, 80% usam aquecedores elétricos. “É a consequência da conivência entre o monopólio estatal Eléctricité de France e a indústria da construção, que não instala gás nem outros sistemas de calefação nas residências”, explicou.

A França poderia abandonar a energia nuclear em 2035 se adotasse uma política baseada na eficiência energética, para reduzir o consumo desnecessário, e um programa maciço para usar fontes renováveis, especialmente as eólica e solar, segundo a négaWatt, associação de 350 especialistas.

“Em 2035 poderíamos fechar todas as usinas nucleares e dependermos apenas de geradores geotérmicos e hidrelétricos de menor escala, grandes parques com turbinas eólicas, estruturas fotovoltaicas e unidades de biomassa, e ter energia suficiente para atender as exigências elétricas do país”, disse à IPS o diretor da négaWatt, Thierry Salomon. Em 2050, a França consumiria o dobro da eletricidade que usa agora e poderia não necessitar da energia nuclear, segundo Thierry. “Não voltaríamos a usar velas nem necessitaríamos de centrais atômicas”, acrescentou. Envolverde/IPS

IMAGEMCrédito: Menekse Cam - Para conhecer o trabalho da artista acesse http://www.toonpool.com/artists/menekse%20cam_1581.

Estudo mostra que exercícios aeróbicos ajudam a manter o cérebro saudável na velhice

Estudo mostra que exercícios aeróbicos ajudam a manter o cérebro saudável na velhice

Um estudo realizado por um grupo de universidades norte-americanas revelou que exercícios físicos aeróbicos podem diminuir a perda de memória em idosos e prevenir o declínio cognitivo associado ao envelhecimento.

A pesquisa, divulgada pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), avaliou os cérebros de 60 adultos saudáveis com idades entre 55 e 80 antes, durante e após o período de um ano de exercícios.

Os resultados apontaram que a temporada de atividade foi capaz de aumentar o tamanho do hipocampo em adultos mais velhos, levando a uma melhoria na memória espacial. Estudos anteriores apontaram que o hipocampo diminui com a idade, o que afeta a memória e aumenta o risco de demência.

De acordo com os pesquisadores, o grupo que praticou apenas exercícios de alongamento teve diminuição média de 1,40% no hipocampo esquerdo e de 1,43% no direito.

Já os participantes que caminharam por 40 minutos, três vezes por semana, tiveram um aumento de em média 2,12% no volume do hipocampo esquerdo e de 1,97% no direito, além de apresentarem melhoria nas funções de memória e aumento em diversos biomarcadores associados com a saúde cerebral, como no fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, na sigla em inglês), uma pequena molécula envolvida na memória e na aprendizagem.

Para Arthur Kramer, da Universidade de Illinois e um dos autores da pesquisa, os resultados são bastante interessantes "por indicarem que mesmo pequenas quantidades de exercícios em adultos mais velhos e sedentários podem levar a melhorias substanciais na memória e na saúde cerebral".

Essa não é a primeira pesquisa a associar a prática de atividades físicas à melhoria da capacidade cerebral na velhice. Um estudo apresentado no final de 2010 pela Universidade de Pittsburgh apontou que pessoas que caminhavam no mínimo dez quilômetros por semana tinham metade do risco de sofrer de problemas de memória do que os que não se exercitavam.

Foto: MRBECK

Brasil desperdiça R$ 7,4 bi por ano com água

Brasil desperdiça R$ 7,4 bi por ano com água

O Brasil perde, ao ano, R$ 7,4 bilhões por falta de infraestrutura relacionada ao uso da água no território. Falta de investimentos e de manutenção dos sistemas já instalados são algumas das causas que fizeram o especialista em eficiência energética e da água, Airton Gomes, concluir o desperdício de recursos.

O consultor avaliou todos os gastos de acordo com as informações do relatório de 2008 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), que cobriu 4.561 municípios, e alertou que dos 7,4 bilhões de reais, apenas R$ 4,4 bilhões ainda podem ser recuperados.

O SNIS analisa a produção, o tempo médio de abastecimento de 20 horas por dia, consumo autorizado não faturado e a estimativa de perdas reais e aparentes na realização do seu relatório anual.

Porém, para existir esta recuperação, grandes incentivos orçamentários deverão ser feitos nos sistemas de saneamento do país até a universalização dos serviços de água e esgoto previsto para 2015.

Uma maior fiscalização e manutenção das redes antigas de abastecimento merecem ser realizadas para impedir ligações clandestinas (os popularmente conhecidos como "gatos") e os erros de medição, creditando um total de R$ 10 bilhões em recursos do governo.

Para Gomes, as empresas brasileiras estão perdendo dinheiro com a falta de preocupação com os sistemas de abastecimento da água. Para reverter a situação, medidas urgentes devem ser tomadas para que o custo da redução da perda não se torne maior do que o resultado alcançado.

Falta de estrutura

Segundo o especialista, o grande número de sistemas de abastecimento instalados desde a década de 60 até hoje (de 500 para 5, 5 mil neste ano) pode ter sido responsável pela falta de organização do país quanto ao uso da água.

"Tem um caminhão de dinheiro, mas o setor demora de 4 a 5 anos para se reestruturar. Não tem quem faça projetos. Ou seja, não é uma questão apenas de dinheiro, pois não há quadro técnico.", destacou o consultor, que criticou também a grande quantidade de novas obras que vem sendo construídas.

Em relação ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o especialista analisou que os sistemas de abastecimento antigos foram preteridos às novas obras de infrestrutura, que traz mais visibilidade política as autoridades do setor. "Passamos décadas construindo sistemas. É preciso mudar a cultura de obras. Em tempos de PAC, só se pensou nisso", afirmou Gomes.

Já para o secretário nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, Leodegar Tiscoski, o governo está sim preocupado com a sustentabilidade do sistema a longo prazo. Segundo o secretário, o PAC 2 terá uma linha de crédito específica para a diminuição desses desperdícios de verbas para os antigos sistemas.

Foto: Keneth Cruz

Telhado Verde é um dos itens que mais contribuem para a certificação Leed

Telhado Verde é um dos itens que mais contribuem para a certificação Leed

Quem acompanha o EcoD ainda se lembra de matéria recente sobre Stuttgart, cidade alemã que tem 60% de cobertura vegetal, no intuito de coibir as chamadas "ilhas de calor". A instalação de telhado verde é um dos fatores mais levados em conta pela certificação Leed (Leadership in Energy and Evironmental Design). Por essa razão, a Associação Telhado Verde (ATV Brasil) e o Green Building Council (GBC Brasil) firmaram uma parceria que busca incentivar essa prática aqui no Brasil.

O acordo prevê uma adaptação dos critérios do Leed à realidade socioambiental brasileira. A parceria também projeta uma participação ativa da ATV nas construções sustentáveis no Brasil, o que inclui escolas e casas.

Segundo o presidente da GBC Brasil, Marcos Casado, os projetos que pretendem obter a certificação recebem pontos de acordo com as características da construção. A entidade cadastra e audita os empreendimentos que desejam o selo Leed.

De acordo com o presidente da ATV, João Manuel Feijó, a iniciativa mais valiosa é o telhado verde: "Nenhuma ação sozinha pontua tanto na certificação", destacou ao blog Planeta, do Estadão.com. Bons motivos não faltam nesse sentido, pois os telhados verdes ajudam a melhorar a qualidade do ar da cidade, capturam dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, aprimoram a climatização do prédio, a drenagem de águas de chuvas e a biodiversidade urbana.

Atualmente, cerca de 200 edifícios contam com o selo Leed no Brasil. A maioria deles é composta por prédios comerciais, tais como o complexo Rochaverá e o Eldorado Business Tower, ambos em São Paulo. Este último é o único do país a obter a certificação Platinum, considerada a mais elevada. Criada em 1998 pelo GBC norte-americano, a classificação já foi concedida a 14 mil empreendimentos em todo o mundo.

A certificação tem cinco critérios principais: áreas sustentáveis, eficiência no uso de água, energia e atmosfera, materiais e recursos e qualidade ambiental interior. De acordo com a pontuação em cada categoria, a certificação pode variar em quatro níveis de excelência: certificação padrão, Silver, Gold e Platinum.

Stuttgart é modelo em telhados verdes

A prefeitura de Stuttgart investe desde os anos 1980 em uma rede de cinturões verdes, nos quais o plano diretor proíbe edificações, que funcionam como "corredores" de vento, atrapalhando a circulação do ar. Mesmo fora dos cinturões, a malha verde abrange ruas, trilhos de trem, parques públicos, telhados de casas e edifícios. O principal objetivo é evitar a concentração de ar quente e de gases do efeito estufa.

A lei ambiental da capital do Estado de Baden-Württemberg, no Sudoeste da Alemanha, protege 39% da área de Stuttgart, onde são proibidas novas construções. Ao todo, a cidade dispõe de 5 mil hectares de florestas, 65 mil árvores em parques e 35 mil nas ruas, 300 mil metros quadrados de telhados verdes e 32 quilômetros de trilhos de bonde onde, a partir de 2007, foi plantada grama.

Interessados em se cadastrar na ATV Brasil devem entrar em contato através do site da instituição.

Foto: 416style

Gráficos para entender a evolução da crise nuclear no Japão

Gráficos para entender a evolução da crise nuclear no Japão  1
Gráfico do El Mundo. Para interagir, clique aqui. Imagem ©ElMundo.es.
Menos de uma semana depois de o terremoto de 8,9 graus e o tsunami
atingirem o Japão, suas consequências ainda estão em andamento, com boas e más notícias.
O lado positivo é que as
rigorosas normas de construção do Japão ajudaram a reduzir o número de vítimas, enquanto a comunidade internacional continua enviando ajuda por meio de diversas organizações internacionais e sistemas de doação encontrados neste artigo (em inglês).
Entretanto, todas as atenções se voltam para a
situação da usina nuclear de Fukushima e o risco de ocorrer o pior desastre nuclear desde Chernobyl. Como entender e acompanhar o que está acontecendo no Japão?

Para entender os fatos, o jornal espanhol El Mundo criou um gráfico interativo que demonstra os danos causados aos reatores 1, 2, 3 e 4 da usina de Fukushima e como cada um deles funciona.

Gráficos para entender a evolução da crise nuclear no Japão  2
Gráfico do El Mundo. Para interagir, clique aqui. Imagem ©ElMundo.es.
Além disso, um grupo de voluntários da enciclopédia aberta Wikipedia está atualizando, minuto a minuto, uma
tabela com informações que chegam de diferentes fontes (em inglês). Os quadros explicam, de forma resumida, o grau de danos em cada reator, as medidas de redução de riscos e os níveis de radiação emitidos nos arredores.
Os dados são fornecidos pelo
Fórum Industrial Atômico do Japão, uma organização não-governamental que promove o uso da energia nuclear no país.
Um dos pontos principais desses quadros é a seção que se refere à integridade dos vasos de contenção ('Containment integrity'), já que evitam o vazamento de materiais radioativos. Pode-se ver que os vasos de contenção dos reatores 2 e 3 estão parcialmente danificados e que a radiação está em 1937 µSv/hora, nível que ainda não apresenta riscos à saúde.

Gráficos para entender a evolução da crise nuclear no Japão  3
Quadro sobre situação de Fukushima em 16.03.2011. Fonte: Wikipedia
Os esforços para impedir novos vazamentos continuarão nas próximas horas, e esses gráficos podem servir como guia para você acompanhar a situação em Fukushima.
(Texto: planet green
)

A crise de Fukushima deterá o avanço da energia nuclear

A crise de Fukushima deterá o avanço da energia nuclear?
Imagem: John /Creative Commons.

O Japão continua em estado de alerta devido aos
problemas na usina nuclear de Fukushima e ao risco de vazamento de radiação. Ontem, a Agência de Segurança Nuclear do Japão elevou o nível de gravidade do desastre para 5 , o que significa que o acidente nuclear passa a ter “consequências de maior alcance” em vez de “consequências locais”. (nível 4).

Como comentamos há alguns dias, a situação
reacendeu dúvidas sobre a segurança da energia nuclear  e levou países como Alemanha, China e Venezuela a rever planos relacionados a esse tipo de energia.

No entanto, o desastre pode significar um divisor de águas no avanço da energia nuclear? Diante da tragédia, as reflexões sobre a viabilidade da energia nuclear tornam-se menos apaixonadas e mais pragmáticas.

Em artigo no Wall Street Journal, o colunista de negócios Alen Mattich afirma que mesmo se ocorrerem mortes por radiação em Fukushima, os números serão modestos se comparados às perdas provocadas pela mineração e pela indústria de carvão. Mattich também destaca que apenas uma usina foi danificada após o maior terremoto da história do Japão, e ainda assim, e apenas em seus sistemas de apoio. Entre as energias renováveis, a mais disseminada é a hidrelétrica em países com grandes cursos de água, mas as fontes solares e eólicas estão avançando de forma lenta e só poderiam substituir a energia nuclear, no mínimo, em uma geração, destaca o articulista.

Na mesma linha,
The Australian afirma que a crise japonesa pode ter algum impacto em países que ainda não têm centrais nucleares, mas onde já houver planos e projetos, só haverá um atraso – inclusive no Japão.

Em tom similar, mas não tão favorável à indústria nuclear, o conhecido jornalista ambiental inglês
George Monbiot defende no jornal The Guardian que, apesar dos riscos e problemas, a energia nuclear ainda é melhor que o carvão (principal fonte de emissões de gases que causam o aquecimento global).
"Temo a indústria nuclear como qualquer outro ecologista: todas as experiências demonstraram que, na maioria dos países, as empresas que a controlam são oportunistas cujo negócio nasceu como um subproduto das armas nucleares", afirma. "Mas apesar da força dos argumentos do movimento antinuclear, não podemos deixar que o sentimentalismo histórico nos impeça de ter uma visão mais ampla. Mesmo quando as usinas nucleares vão terrivelmente mal, provocam muito menos danos ao planeta e às pessoas do que as usinas de carvão operando normalmente".
Monbiot acrescenta que, na luta contra a mudança climática, descartar o uso da energia nuclear (que não gera emissões) não é uma opção, e defende regras claras sobre a origem e destino dos materiais e resíduos radioativos, assim como uma lista de “fornecedores limpos”.

Contra esses argumentos, a pesquisadora Natalie Kopytko – que estudou os efeitos de desastres naturais em usinas nucleares – posicionou-se contra o avanço desse tipo de energia em artigo no Guardian.

Segundo Kopytko, independentemente de como se construa uma usina, ela sempre precisa estar localizada em regiões costeiras ou próximas de grandes corpos d´ água, já que precisa desse recurso para funcionar e resfriar os reatores. Portanto, diante de grandes catástrofes, as usinas correm risco de inundar e sofrer falhas como as de Fukushima. Além disso, se as mudanças climáticas continuarem avançando, as tempestades serão muito mais violentas do que nos registros históricos usados para fazer os cálculos de segurança das usinas.

"Em Chernobyl, culparam os soviéticos e o projeto de seus reatores. A culpa de Fukushima será atribuída à escala do desastre e talvez ao projeto. A indústria nuclear mudará algum detalhe e nos garantirá que tudo ficará bem. […] Sempre que um acidente acontece, a culpa é de circunstâncias excepcionais. Qual será a próxima?”, questiona.

Poluição e lixo ameaçam crescimento, diz ministro chinês

Por Chris Buckley

PEQUIM (Reuters) - A China enfrenta graves sobrecargas ambientais e de recursos, que ameaçam sufocar o crescimento do país, disse o ministro do Meio Ambiente em um artigo publicado nesta segunda-feira.

Fazendo um alerta excepcionalmente duro, Zhou Shengxian disse também que seu ministério quer incluir avaliações sobre emissões de gases do efeito estufa no processo de aprovação de projetos de desenvolvimento.

Isso daria ao ministério mais influência sobre as questões climáticas, área hoje dominada por órgãos cujo principal interesse é estimular o crescimento industrial.

'Nos milhares de anos de civilização da China, o conflito entre humanidade e natureza nunca foi tão sério quanto hoje', disse Zhou no ensaio publicado no jornal oficial do seu ministério.

'O esgotamento e exaustão dos recursos, e a deterioração do meio ambiente se tornaram sérios gargalos restringindo o desenvolvimento econômico e social.'

No domingo, o primeiro-ministro Wen Jiabao já havia dito que a China precisa buscar um crescimento menos acelerado e mais limpo.

Quando as energias renováveis poderão ser as principais no planeta?

Iate PlanetSolar, em Cancun, não requer combustível nem velas pois sua propulsão é obtida a partir dos 500 painéis de luz solar que lhe proporcionam a suficiente energia para se movimentar // EFE(EFE)

EFE

Um polêmico estudo elaborado pelos pesquisadores Mark Z. Jacobson e Mark A. Delucchi, da Universidade da Califórnia-Davis e publicado na revista "Energy Policy", assegura que 100% da energia consumida no planeta poderia ser obtida de fontes completamente limpas e renováveis em um prazo de três ou quatro décadas.

No relatório se assevera que esta energia teria um custo comparável ao da energia convencional que utilizamos na atualidade, e consideram que a conversão ao novo sistema seria um desafio como o do projeto Apolo, com o qual fomos à Lua na década de 1960.

O projeto consiste na utilização de 90% da eletricidade procedente das fontes eólicas e solares. O resto da energia necessária, 8%, poderia ser gerada a partir das fontes geotérmicas e hidroelétricas, enquanto os restantes 2% se extrairia da energia produzida pelas ondas e pelas marés.

No entanto, embora os dois cientistas tenham tentado dar resposta a muitas das dúvidas que se colocam no setor das energias renováveis, a controvérsia já está aberta: segundo alguns pesquisadores, esta é uma concepção otimista demais sobre o futuro das energias limpas.

Substituir o petróleo

Um funcionário de refinaria passa, de bicicleta, ao lado da unidade na China // EFE(EFE)

EFE

Para Antonio Chica, cientista titular do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) no Instituto de Tecnologia Química de Valência (Espanha), "é preciso ser muito prudente na hora de afirmar que podemos nos servir de energias renováveis no tempo que indica este relatório".

"Não se pode prever a provisão futura de petróleo, as altas de preços que possa ter ou os conflitos que se possam gerar em torno dele. Embora em questão tecnológica seja certo que, por exemplo, já há países que utilizam energia eólica ou solar que produz eletricidade em grandes quantidades e de uma maneira bastante fácil", diz.

Segundo Jacobson e Delucchi, os meios de transporte seriam movidos por energia elétrica procedente de renováveis, eliminando completamente a dependência do petróleo.

 

Veículo dotado com células de combustível sai de uma estação de abastecimento de Hidrogênio em Ulsan, a 400 Km a sudeste de Seul, na Coreia do Sul // EFE(EFE)

EFE

Carros, trens, navios seriam impulsionados por motores elétricos alimentados por pilhas de combustível, baseadas em hidrogênio obtido mediante eletrólises de água.

"Agora todas as grandes indústrias do automóvel estão trabalhando em alternativas que não utilizem petróleo e as alternativas são baterias e pilhas de combustível ainda em desenvolvimento. Essa pesquisa se deve a que a indústria é consciente de que o petróleo tem um tempo limitado", adverte o especialista espanhol.

"Mas para eles tanto faz que seja petróleo, hidrogênio ou qualquer energia renovável, o que lhes importa é que seja o mais barato e, por enquanto, o mais barato continua sendo o petróleo pela infraestrutura já existente que possui", comenta.

"O mercado não vai se movimentar porque se polui mais ou menos. Os Governos são os que teriam que direcionar o processo, assim como os níveis de poluição", também assevera o cientista.

Esta transição para estas novas formas de energia traz uma despesa de adaptação tecnológica, mas o mais espetacular deste estudo é que Jacobson e Delucchi opinam que não é preciso que desenvolvamos nenhuma nova tecnologia porque essas tecnologias já existem e se encontram disponíveis maciçamente.

Platina, material necessário e limitado

Foto aérea mostra os moinhos de vento de Belwind em um parque eólico marinho no litoral de Zeebrugge, Bélgica // EFE(EFE)

EFE

Segundo Antonio Chica, "no caso dos sistemas móveis, ou seja, meios de transporte, a implantação das energias alternativas é mais difícil, sobretudo por causa da tecnologia necessária para os automóveis, já que as pilhas de combustíveis têm muitos desafios pela frente".

Um deles é o uso, por enquanto necessário, da platina, tanto para as células fotovoltaicas das placas solares como para as pilhas de combustível.

"Não há platina suficiente para todos os carros que funcionam no mundo, levando em conta também que o parque automobilístico aumenta dia a dia", diz.

Jacobson e Delucchi apresentam um planeta semeado de sistemas eólicos e solares entre os quais se pudesse redistribuir a energia elétrica estacionária.

Recolher a que o vento produz durante a noite e a energia solar durante o dia, e aproveitar ao máximo os excessos de geração que se produzem em algumas regiões e poder enviar para outras com mais dificuldades para gerá-las.

Quanto à instalação de turbinas eólicas, um dos maiores problemas é a das grandes superfícies que são necessárias para sua instalação. O número delas que aparece no projeto é tão grande que seria preciso cobrir 0,6% da terra firme disponível.

Mas Jacobson também tem resposta para este problema e propõe que "a maioria da terra existente entre as turbinas eólicas possa ser utilizada para a pecuária ou a agricultura".

Além disso acrescenta outra alternativa: instalá-los sobre plataformas flutuantes no mar.

O cientista espanhol nos explica que neste sentido já estão sendo feitas pesquisas: "O número de turbinas eólicas e a área de superfície dependem da demanda que se queira cobrir".

"A Espanha nesse sentido é pioneira por que vai construir o maior aerogerador do planeta. A ideia é que, em vez de utilizar uma grande superfície com muitos moinhos se utilize um enorme que dê tanto serviço elétrico como um grande grupo deles. Mas também neste sentido é preciso continuar pesquisando", adverte.

Jacobson, reconhecido professor de engenharia civil especializado em temas ambientais, finalmente assegura que não existem barreiras de caráter tecnológico ou econômico para substituir todas as fontes de energia que utilizamos na atualidade por outras que sejam limpas e renováveis, e que o maior desafio é superar as barreiras políticas que o impedem.

No entanto, há muito tempo estão sendo dados, embora tímida e lentamente, os primeiros passos. Como explica o pesquisador espanhol: "Há programas como os que estão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos, nos quais estão sendo investidos milhões e milhões de dólares para tentar encontrar uma solução para essa energia elétrica que pode ser consumida como combustível, através das energias alternativas encaminhadas para prédios, lares, fábricas etc.

"Na Europa, o programa JTI (Joint Thecnology Initiatives) é um consórcio entre a União Europeia e diferentes empresas para apoiar e financiar todo tipo de projeto que tenha a ver com as energias renováveis aplicadas à produção de hidrogênio", completa.

Antonio está convencido de que os Governos e suas políticas estão cada vez mais conscientes da importância destes programas de pesquisa.

"Na Europa existe uma normativa denominada 202020, pela qual para o ano 2020, 20% de nossa energia deve proceder de energias renováveis", diz.

"Mas, eu não diria que até 2020 possamos estar nas condições previstas no relatório", conclui Antonio.

Cientistas estudam mecanismo do pulo do canguru

Cientistas estudam mecanismo do pulo do canguru

BBC Brasil

"Câmeras especiais capturaram movimentos de cangurus"

Uma equipe de cientistas britânicos, americanos e australianos está usando tecnologia de cinema para desvendar o segredo do pulo do canguru, explicando como se processa a ação motora do movimento.

O estudo está sendo feito em Brisbane, na Austrália.

Câmeras especiais capturaram movimentos de cangurus

As câmeras que capturam os movimentos dos animais são parecidas com as usadas na série de filmes Senhor dos Anéis, para criar o personagem Gollum.

Ao contrário do cinema, os cientistas fazem tudo ao ar livre e a nova câmera consegue usar infravermelho para registrar os movimentos, filtrando a interferência da luz do Sol.

Eles já descobriram que o canguru não muda a postura para pular, mas ainda vão analisar melhor os dados.

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O dia mais quente do ano

Se você é uma daquelas pessoas que reclamam todos os dias do calor, prepare-se para se queixar ainda mais. No próximo domingo, dia 20, a capital pernambucana terá o dia mais quente do ano. A temperatura máxima poderá ultrapassar os 36 graus Celsius, com sensação térmica acima dos 40. Esse ´calorão` é consequência de um fenômeno astronômico chamado equinócio, que a cada ano vem sendo potencializado pelo efeito estufa.


Arte de Greg/dp

A palavra equinócio vem do Latim, aequus (igual) e nox (noite), e significa ´noites iguais`, ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo, 12 horas cada turno. É um fenômeno em que o sol se posiciona perpendicularmente em relação à Terra, fazendo com que seus raios sejam distribuídos igualmente entre os hemisférios, entretanto, com mais incidência na região próxima a linha do Equador.
O equinócio ocorre duas vezes no ano. Uma em março, no dia 20, e a outra em setembro, dia 23. O fenômeno define as mudanças de estação. No Hemisfério Norte a primavera inicia em março e o outono em setembro. No Hemisfério Sul é o contrário, a primavera inicia em setembro e o outono em março. Como o Brasil está numa área tropical, essa passagem de estação não é bem definida.
A coordenadora do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe), Francis Lacerda, alerta para a principal consequência do fenômeno no estado, a alta elevação da temperatura. ´O equinócio é o momento em que a Terra está mais próxima ao sol, por isso um aumento na temperatura da superfície terrestre, é natural`, disse. ´O que não é normal é esse calor acima dos 35 graus Celsius que vem aumentando nos últimos cinco anos`, completou.
Ainda de acordo com a coordenadora, o efeito estufa é o que vem contribuindo para o crescimento gradativo da temperatura. ´O calor não consegue se expandir para o espaço porque fica retido entre a atmosfera e a superfície por causa da ação de gases, como o carbônico` , explicou. ´Essa temperatura vem aumentando no estado nos últimos cinco anos`, alertou.
Assim como levou séculos para que a Terra atingisse esse nível de calor, também precisaremos de muitos séculos e mudanças de hábitos para que ele se reduza. ´A atuação humana, quase sempre sem preocupação ambiental, foi e está sendo decisiva para esse desequilíbrio. É preciso repensar tudo o que fazemos e como fazemos`, afirmou Francis Lacerda. A expectativa dos meteorologistas é que se não houver mudanças reais na humanidade, as temperaturas vão aumentar a cada ano.
"A atuação humana, quase sempre sem preocupação ambiental, agrava o desequilíbrio" Francis Lacerda, meteorologista, coordenadora do Lamepe