Teerã, 21 ago (EFE).- O Irã começou neste sábado a fornecer combustível nuclear à usina construída em Bushehr, no sul do país, em meio a uma crise com a comunidade internacional originada pelo projeto iraniano de enriquecer urânio a 20%.
Durante a cerimônia oficial que realizava a introdução do combustível nuclear em Bushehr, o vice-presidente do Irã e diretor do Organismo de Energia Atômica do país, Ali Akbar Salehi, afirmou que o Irã seguirá com o enriquecimento de urânio ao nível de 20%.
"Continuaremos com o enriquecimento de urânio a 20% enquanto precisarmos", disse Salehi durante entrevista coletiva conjunta com o diretor da empresa russa Rosatom, Serguei Kirienko, transmitida ao vivo de Bushehr.
O vice-presidente iraniano acrescentou que o Irã não cogita transformar todo seu urânio enriquecido a 3,5% em urânio enriquecido a 20%, no entanto, fez insistência no que considerou "o direito do Irã de enriquecer o urânio".
"Segundo o artigo 4 do Tratado de Não-Proliferação (TNP) e as normativas da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o enriquecimento de urânio é um direito nosso do qual faremos aproveito", disse.
Salehi disse, por outro lado, que o Irã possivelmente construirá uma nova usina de enriquecimento de urânio no próximo ano iraniano, que começa em 21 de março.
"Se o presidente iraniano ordenar, começaremos a construção de uma nova central de enriquecimento de urânio", disse Salehi, quem havia informado recentemente sobre a localização dos locais para a construção de dez novas usinas de enriquecimento de urânio.
O projeto da construção da central de Bushehr, localizada às margens do Golfo Pérsico, começou durante o reinado do xá Mohammad Reza Pahlavi.
A companhia alemã Siemens começou as obras em 1974, mas teve de suspender o projeto após a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o xá do poder.
A corporação russa AtomStroyExport retomou a construção após assinar um contrato com o Irã em fevereiro de 1998, mas posteriormente o projeto se viu afetado por inúmeros atrasos, devido às suspeitas da comunidade internacional de que o programa nuclear iraniano teria fins militares.
A República Islâmica mantém uma disputa com a comunidade internacional ao se negar a suspender sua atividade de enriquecimento de urânio.
Países ocidentais, sobretudo Israel e Estados Unidos, veem com suspeita o programa nuclear iraniano e temem que ele encubra a produção de armas nucleares, o que é negado por Teerã.
As autoridades iranianas apresentaram em 2009 um pedido à AIEA para a aquisição de combustível nuclear ao reator de Teerã, para a produção de isótopos radioativos, usados em tratamento médico de combate ao câncer.
A AIEA aceitou o pedido e propôs a troca de 1,2 mil quilos de urânio enriquecido a 3,5% por 120 quilos de combustível a 20%, um processo que implicaria Rússia, França, Estados Unidos e AIEA, que formam o chamado Grupo de Viena.
Essa fórmula, que em princípio foi aceita pelo negociador nuclear iraniano em Viena, foi rejeitada mais tarde pelo Governo de Teerã, que se negava a entregar todo seu urânio e alegava também a falta de garantias sobre a entrega de combustível ao Irã.
Em maio passado, o Irã aceitou a proposta, num acordo fechado em Teerã com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan.
Segundo este acordo, o Irã enviaria 1,2 mil quilos de urânio à Turquia para receber, no prazo de um ano, 120 quilos do material enriquecido a 20% para seu reator em Teerã.
O acordo foi rejeitado pelo grupo de Viena, que afirmava que as reservas de urânio enriquecido no Irã já somam mais de 1,2 mil quilos.
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