quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aurantiaca: Coco com código de barra

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Já imaginou você pegar uma água de coco e nela saber a história de vida de quem produziu e cuidou daquele fruto até chegar a você? Essa é a rastreabilidade proposta pela empresa baiana Aurantiaca, que tem como meta redefinir toda a cadeia de produção de coco, sendo líder em inovação.


Aurantiaca: Coco com código de barra
Sombra, água fresca, e muito trabalho pela frente. O cenário imaginário daqueles que pensam o litoral baiano como descrito nos versos de Vinícius de Moraes em “Tarde em Itapuã” é reconstruído por uma empresa que tem o objetivo de se tornar líder em inovação no cultivo de coco.

A holding Aurantiaca nasceu na Bahia, em 2008, com a aquisição das fazendas Bu e São Bento da Barra, que margeiam a BA-099, na divisa dos municípios de Esplanada e Conde. Desde o início dos trabalhos, as metas já estão definidas: redefinir toda a cadeia de coco, fazer algo ainda inexplorado na Ásia ou Europa, inovando na gestão, produção e o beneficiamento do fruto. Em solo baiano, a Aurantiaca desenvolve uma cultura de excelência operacional para garantir o gerenciamento de recursos de forma responsável, rentável, com uma governança de nível global.

Em visita à sede da Fazenda Bu, distante 140km do agito da capital baiana, o clima cheira mesmo a maresia e a brisa leve pode até fazer relaxar quem esteja desavisado. Mas o ambiente aqui é de trabalho. Costeando o mar, as linhas de coqueiros crescem ao olhar atento da equipe. Roberto Lessa, vice-presidente da Aurantiaca, é quem nos recebe. O grupo de trabalho de campo está reunido. O tema em debate é como alcançar a maior eficiência na produção e qualidade dos coqueiros da fazenda. Ações fitossanitárias são discutidas e os métodos de ação definidos. A preocupação não é para menos. A Aurantiaca quer elevar a produtividade dos coqueiros da região em 760%. Conde já é o município que mais produz no Brasil, com uma média de 30 cocos por coqueiro ao ano. Mas a Aurantiaca traçou um novo patamar - quer chegar aos 230 cocos por ano.

Ações para alcançar objetivos

O nome Aurantiaca nada tem a ver com coco – no primeiro momento. Deriva, na verdade, da orquídea Cattleya aurantiaca,que tem a menor flor das espécies de Cattleya. É um termo em latim que significa laranja-avermelhado ou laranja-cobre. Cores da família real holandesa, país de origem dos dois investidores que deram início ao grupo. Porém, apesar de raízes estrangeiras, a Aurantiaca tem DNA baiano e uma equipe de colaboradores selecionados por todo o Brasil para formar na organização um time diferenciado.

Depois de 22 anos trabalhando na organização Odebrecht, Roberto Lessa é quem tem a missão de fazer cumprir os audaciosos princípios e objetivos de uma empresa com base estruturada no “espírito de bem-servir”. Segundo Lessa, a Aurantiaca já nasceu com a sustentabilidade em seu modelo de negócio e com a clareza de servir desde os colaboradores internos à região e comunidades até chegar ao consumidor final. “Afinal, o que o cliente precisa é de um produto de alta qualidade, com preço que seja conveniente para ele. Nós estamos aqui para fazer isso, da maneira correta. E eu sei que se a gente servir bem, vamos ter o retorno financeiro”, afirma o vice-presidente.

A holding Aurantiaca atua em dois segmentos de negócios: agrícola e agroindustrial. A Aurantiaca Agrícola engloba as fazendas de coco e áreas de preservação natural. A Frysk Industrial é o nome da fábrica de beneficiamento de coco, instalada na entrada do município de Conde, que vai aproveitar 100% do fruto. A indústria iniciou a primeira fase de operações em dezembro, com a fabricação de biomantas e biorrolos, utilizados em sistema de contenção.No segundo semestre de 2013, a indústria inicia a fabricação das demais linhas de produtos, como óleo e água de coco.

Germinando inovação no campo

As instalações nas fazendas Bu e São Bento da Barra seguem em desenvolvimento. As propriedades do grupo empresarial têm cinco mil hectares, dos quais 1.500 hectares são de área plantada. Os coqueiros antigos receberam um novo tratamento e já aumentam a produtividade. Outros estão sendo plantados. A meta é ter um milhão de pés de cocos em plena “atividade”. Ambas as fazendas seguiam o mesmo modelo de produção existente na região, cujo resultado produtivo é baixo.

Segundo Sabino Mesquita, paraense especialista na cultura de fruto, o modelo aplicado na maioria das fazendas de coco do Brasil ainda é antigo, sem técnicas modernas. A maior produção desse fruto é feita na Ásia - 90% do volume mundial. Filipinas, Indonésia e Índia são os países líderes e o Brasil vem logo em seguida. Dentro do contexto nacional, a Bahia lidera a produção, com uma área cultivada de mais de 83 mil hectares, à frente do Ceará (43 mil ha) e Sergipe (34 mil ha). Tomando-se como referência o ano de 2010, a produção anual foi superior a 500 milhões de frutos, contribuindo com mais de R$221 milhões para a composição do valor bruto da produção agrícola, além de gerar cerca de 240 mil postos de trabalho. Todo o processo está sendo revisto pela equipe da Aurantiaca. 

De acordo com Roberto Lessa, na Aurantiaca Agrícola, o foco da produção será na qualidade, certificação, produtividade e rastreabilidade.

Rastreabilidade

Uma das inovações implementadas pela Aurantiaca Agrícola é numeração aplicada a cada coqueiro das fazendas, com o código de barra, uma espécie de carteira de identidade. Na colheita do coco, o homem do campo passa um leitor de código onde registra a quantidade de cocos colhidos, mensura a produtividade daquele coqueiro e envia as informações para um banco de dados. O conjunto das informações servirá para criar um mapa geral das fazendas, onde se torna possível ver quais são os coqueiros mais produtivos e quais precisam de uma atenção técnica para corrigir os problemas, a exemplo de presença de pragas ou falta de nutrientes no solo. “Isso é agricultura de precisão”, define Roberto Lessa.

A tecnologia usada no campo vai servir também para conectar o produtor ao consumidor final. 

“Quando você pegar nossos produtos na prateleira do supermercado, vai poder ver com o celular, por meio do QR Code, a pessoa que cultivou e tomou conta daquele coco, contando um pouco da história dela, do que fazia antes do projeto e o que mudou na sua educação e na dos filhos. Vamos ter as informações completas do produto desde o cultivo até a prateleira”, explica Roberto, que ainda completa: “A gente quer que o consumidor olhe para esse produto e veja que também faz parte dessa história, desse processo. Queremos ser um link entre o homem do campo e consumidor final”.
Frysk industrial

Os altos níveis de controle no campo e de produtividade dos coqueiros são etapas de um processo na cadeia de produção da Aurantiaca. A Frysk Industrial vai utilizar 70% da matéria prima dos cocos produzidos nas próprias fazendas da Aurantiaca Agrícola. Todo coco que entrar na fábrica será totalmente transformado em produtos de valor agregado.

Na indústria, a casca e fibra do coco são transformadas em biomantas, compostos orgânicos e briquetes (uma fonte concentrada e comprimida de material energético). Da carne do coco, é feita a extração do óleo destinado à indústria de cosméticos e à indústria de suplementos alimentares. O subproduto dessa carne é a farinha, uma fonte rica em fibras usada também na alimentação. E, obviamente, não poderia faltar a água de coco. “O coqueiro é chamado em alguns lugares do mundo de árvore da vida, pois tudo se aproveita desse fruto”, conta Fernando Florence, assessor de planejamento da Aurantiaca.

Para atender os 30% restantes da fábrica e aumentar a produtividade de pequenos e médios produtores da região, foi firmado um acordo entre a Aurantiaca e a Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), do governo do estado. A partir do Protocolo de Intenções Para Revitalização da Cadeia Produtiva do Coco no Litoral Norte do Estado, os produtores receberão incentivos para introduzir tecnologia ao cultivo do coco e aumentar a área plantada. O sistema de produção da Aurantiaca servirá de referência para difusão de tecnologia.
Gestão focada no indivíduo

No campo, uma nova área é preparada para receber os novos coqueiros. Aloísio Mendes de Souza coroa a terra ao redor da planta para receber o adubo e oxigenar o solo. É ele um dos responsáveis por cuidar da terra e do crescimento das novas plantas na fazenda São Bento da Barra. Seu trabalho hoje ainda está na fase inicial, mas pode crescer e ele se tornar o que a Aurantiaca chama de arista. O arista é o líder e responsável por uma determinada área na fazenda – podendo chegar até 25 hectares -, onde diariamente cuida de cada coqueiro. Na primeira fase, serão 60 aristas. Eles serão treinados a ter qualificação e domínio sobre suas áreas.

O objetivo é aprender a observar e identificar as necessidades de cada planta, se ela precisa de água, nutrientes ou um cuidado para afastar as pragas. “Depois de cinco anos, ele terá total conhecimento de como a natureza se manifesta naquela determinada localidade”, explica Sabino Mesquita, diretor agrícola. Acompanhando esse trabalho, toda uma equipe de técnicos agrônomos transmite informações aos aristas e pesquisa novas técnicas para garantir a eficiência da produção. “Nós não queremos pessoas simplesmente para obedecer regras, a gente quer que os trabalhadores do campo entendam o que está acontecendo e o que estão fazendo”, diz Lessa.

Aloísio já trabalhou em outras plantações de coco na região, mas surpreende-se a cada novidade e reconhece, com um leve sorriso no rosto, que “aqui as coisas estão sendo bem diferentes”.A metodologia na Aurantiaca é a educação pelo trabalho. A filosofia da empresa é estimular que o trabalhador do campo aprenda a observar e assim aumentar seu nível cultural, dando as ferramentas para que ele possa se desenvolver. “Isso é o que será bonito em nosso trabalho”, define Roberto Lessa.

As iniciativas na Aurantiaca vão além de medidas assistencialistas, já em desuso em organizações que investem na sustentabilidade por reconhecerem a ineficiência delas. A empresa investe no desenvolvimento pessoal como uma das diretrizes da organização. A filosofia interna é que todos juntos sejam “um conjunto de pessoas felizes, fazendo bem feito o que é certo, de maneira muito inovadora”. Essa frase é disseminada por Lessa como um mantra. “No fundo, todas pessoas buscam ser felizes. E, na Aurantiaca, não queremos que a felicidade seja um destino. Como empresa e colaboradores, acreditamos que ser feliz é todo o caminho porque temos um objetivo em comum de construir algo nobre”, declara Lessa.

Quando questionado sobre como fazer isso tornar-se real, o vice-presidente é objetivo na resposta: “Trabalhar com comprometimento, uma forma de gerir focada no indivíduo. Aqui não temos um bando de pessoas e coqueiros. A gente quer saber a necessidade de cada um e contribuir nessa evolução. Queremos aumentar a qualificação dos nossos colaboradores, assim como aumentar a produtividade de um coqueiro. É olhar cada um com sua individualidade, mas todos juntos para o objetivo em comum”.

 

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